São demais os perigos dessa vida...
"São demais os perigos desta vida pra quem tem paixão, principalmente quando uma lua chega de repente e se deixa no céu, como esquecida, e se ao luar que atua desvairado vem se unir uma musica qualquer, aí então é preciso ter cuidado..." Vinícius de Moraes
5 de janeiro de 2013
Um homem precisa viajar
“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Para quebrar essa arrogância que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” (Amyr Klink)
fotografia: canoa da biblioteca da floresta (César Félix)
A solidão e o medo habitam a irracionalidade de PI
Uma película sobre a vida e a
morte. Sobre a amizade que mora dentro do inimigo. Sobre a ciência que tem fé e
sobre a religião que se abraça com a ciência. Uma história de desapego que só
poderá ser explicada por alguém que se apega a algo. Uma história sobre as
pessoas que vão sem ir. Um filme que obriga a gente lembrar que existem pessoas
que nunca se vão. As perguntas que dorme em nossa memória são marcas que ficaram
cravadas na gente de tal forma que já não sabemos quem somos ou se um dia suas garras não
estiveram presentes.
Um filme sobre o desconhecido. Um
desconhecido age de tal forma que nos fascina. Talvez por isso passamos a vida
correndo atrás de nós e se vamos sem saber quem somos. E perseguimos o desejo
como se ele fosse mágica, como se fosse instinto. Mas ele não é de mágica, ele corta,
arde, brilha, pesa e não tem cheiro. Ele é de pedra.
Revela que uma força descomunal
desafia e preenche nossa solidão: o Medo. Algo tão fantástico e de tamanha
brutalidade, tão feiticeiro e irreconhecível, tão distante quanto incomparável,
tão Infinito que mora no vácuo. Tão assustador que e a gente não sabe mais se estamos
diante de Deus ou do Diabo.
Arte e filosofia, arte e
religião, arte e ciência, arte e motivação, arte e limites, arte e mais arte...
Um filme de perguntas, de um cinema inquieto, para uma plateia perturbada. Perguntas
em forma de pessoas que marcam e que se vão, como se fossem do nada para o nada,
sem deixar sequer o tempo de se abraçar e repartir o coração.
Texto de César Félix
- Nome original do filme: Life of Pi (ano 2012)
- Diretor:Ang Lee
- Roteiro:David Magee, baseado na novela Yann Martel
- Elenco:Tobey Maguire, Irrfan Khan, Gérard Depardieu, Suraj Sharma, Adil Hussain, Ayush Tandon
10 de outubro de 2012
Eu prefiro uma palavra CLÃdestina!
Eu te peço uma palavra atoa, palavra com gosto, palavra que
soa.
Uma palavra forte, que fale da vida, que rejeite a morte.
Palavra com asa, palavra de amor, palavra que voa.
Que exija uma palavra dura, que remeta a uma palavra pura.
Que escreva uma palavra ausente, que se entregue a uma
palavra quente.
Palavra contraditória, palavra que brinque, palavra que coma
palavra...
Que não fale de temas vencidos, de palavras que não dê
abrigos.
Eu exijo uma palavra assim, metade você, metade Yasmim.
Palavras que se vão ao vento,
Que se perdem no abismo do tempo,
Que se jogam poeira a dentro,
Palavras que não tem fim.
César Félix
8 de outubro de 2012
Eleições 2012
Eleições 2012: de
verdadeiro, só o kibe do ovelha!
Nessa campanha que
passa, sem verso e sem refrão, diria que a solidão é quem mais garante voto.
Conteúdo não se vê, proposta já não existe, o eleitor está triste e o comício
sumiu. Não se pode fazer festa, o palanque está quebrado e o candidato fadado a
se fazer de abestado para encher o seu barriu.
O eleitor em silêncio
não sabe se vota ou chora, pra garantir seu sustento sai com bandeira na mão
fingindo que se reúne em tempos de solidão. Do outro lado da rua, chora o
menino de rua com o futuro garantido: vai trabalhar feito um burro, encher
fossa, subir muro e ver o corpo secar. A outra via que passa, grita, solta
aleluias, mas vai lhe deixar na rua após eleição passar.
Não existe mais aposta
nessa eleição sem sentido, bandido engole bandido, ladrão engana ladrão. Se o
candidato for sério e o eleitor desejar, serão chamados de tolos, pois é quase
um desaforo dizer que a proposta é séria, dizer que é contra a miséria, dizer
que ganha eleição sem um voto só comprar.
Não existe mais
esquerda, a direita ficou torta, o centro agora remonta uma bailarina tonta,
não sabe pra onde corre, cambaleia atrás de cargo, vive pedindo afago, mas só
vota se for pago. O coletivo sumiu nessas eleições imundas, cada um pensa no
seu, cada qual com sua funda. De verdade só existe dois pequenos solitários: o
kibe de arroz do ovelha e o tacacá da Raimunda.
Texto: César Félix – eleições
2012.
Fotografia: Clara Figueiredo
29 de setembro de 2012
Além da linha vermelha
Deitado em tapetes de minhas angústias descarrego meu
castigo na solidão dos fatos.
Os caminhos se abrem dentro de minha confusão e eu ainda não
decidi se atiro na mentira ou na superação do meu egoísmo.
A propriedade me consome e eu procuro uma saída que não seja
o suicídio ou a prostituição.
A natureza se abre, se confunde e se extermina na guerra de
minha indecisão.
Ao lado de minha loucura um nativo faz o caminho contrário e
eu finjo que não vejo.
Preciso passar a linha, mas ela não tem cor e única mancha
que vejo é a de sangue.
Tudo está se diluindo, minha vida, meu planeta, meu espaço,
minha memória.
Eu te peço ajuda, mas estou sozinho.
Na certeza do que não sei, eu me jogo na dúvida e caminho no
infinito do abismo vermelho da história.
Poema: César Félix
Fotografia:
Ilse Bing (1932)
Ps: poema parido logo após o debate na Sociedade de
Philosofia da biblioteca da floresta.
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